o primeiro de maio do nosso descontentamento?
Não sei o grau de maquiavelismo científico dos inventores do caso Pingo Doce, mas concluo que puseram pobres contra pobres com uma cada vez mais reduzida classe média a teorizar sobre a coisa e a ver se escapa à maldição. Pobres que defendiam o direito ao feriado contra pobres que precisavam dos descontos para se alimentarem melhor. Chegámos, como já escrevi noutro post, a um estado de excepção em que tudo, mas mesmo tudo, pode acontecer e a qualquer momento.
É também uma época de desorientação e propícia a várias intifadas. Tenho o hábito de raciocinar por indução e desta vez não fujo à condição.
O sistema escolar tem sido um bom laboratório para perceber o estado da nossa sociedade. Quando o anterior Governo perpetrou um série de políticas comprovadamente totalitárias, o mainstream e o lumpen aplaudiram. É importante referir que nesse Governo estavam pessoas que vinham directamente dos sindicatos, tanto da CGTP como da UGT. Alguns eram mesmo sindicalistas radicais que se barricavam nos seus momentos coléricos e que se investiram como governantes déspotas. Para além disso, ou talvez por isso, esse Governo e esses sindicatos entenderam-se, em 2008, e acordaram, em 2010, medidas que institucionalizavam o que existia.
Um acentuado descrédito das forças sindicais foi o passo seguinte e só a manifestação de indignados de Março de 2011 originou, por temor do mainstream, a queda desse Governo. O que é que o futuro nos reserva é a incógnita do momento, mas devemos acreditar que cruzar os braços não é a solução. As implosões sociais, em regra, deixam muito poucos a salvo.