silêncio ruidoso
Apesar de estarmos preenchidos por sons, a supressão do tempo não deixa espaço para a audição de obras musicais longas. É uma consequência da absolutização do presente e da ausência de futuro. Temos pressa e andamos em permanente dívida de tarefas. Começamos uma e ficamos com a sensação que há uma mão cheia à nossa espera.
Estava à espera do sinal verde na passadeira quando senti o som de um painel publicitário. As imagens não eram suficientes e alguém acrescentou uma qualquer melodia. É assim nos elevadores, nas casa de banho públicas e por aí fora. Não escapamos ao desassossego da ubiquidade musical e eliminámos o silêncio.
Dirigia-me a um espaço de restauração onde é habitual esperar por uma sessão de cinema e ouvir um pianista. Nos últimos tempos o lugar do músico ficou vazio. O país empobrece, as "inutilidades" não resistem à erosão e o silêncio torna-se ensurdecedor.