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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

as palavras do corpo

23.03.12, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

 

É o último livro de Maria Teresa Horta. Li a entrevista no Ípslon da semana passada e perdi-a. Encontrei-a online e recomendo. Ficou-me uma passagem que relembra tempos que não deviam regressar.

 

"Diante da sua nova antologia de poesia erótica, As Palavras do Corpo, Maria Teresa Horta recapitula uma vida inteira de risco e de exposição, de leitura e de escrita: “Para mim, escrever é voo e sobressalto, incêndio e desmesura”(...)

 

Então não era uma menina "bem", de linhagem aristocrática, numa Lisboa que fora capital de um Império mas que era, na altura, quase provinciana?

Nunca fui uma menina "bem", pelo contrário. Desde os cinco, seis anos, as amigas que eu escolhia, à revelia dos meus pais, eram rapariguinhas da minha idade ou um pouco mais velhas, que moravam em barracas de madeira junto de uma ribeira, nos fundos de uma pequena mata, para além de um muro baixo que às escondidas todos os dias saltávamos, na parte de trás do jardim da casa de Benfica onde morávamos. A primeira aprendizagem do conhecimento da realidade, fi-la em sua companhia, pois elas sabiam da vida aquilo que eu nem sonhava, pelo avesso mesmo do meu imaginário de menina protegida, defendida, já a ser programada para o papel de passividade, de mulher-sombra, de mulher-sopro, de mulher-nada; aniquilamento exigido às mulheres das classes privilegiadas de um Portugal fascista, triste e medíocre. Desde logo, porém, a minha família se apercebeu ter em mãos um grave problema: fazer-me aceitar essa "lavagem ao cérebro", essa programação de feminização de classe; havia a minha desobediência selvagem.(...)"

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