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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

pós-democracia

18.06.08

 

 

 

 

É claro que só daqui por uns anos se conseguirá perceber os contornos políticos da época que vivemos. São inúmeros os autores que têm dedicado a sua investigação às ciências políticas, mas necessitam de tempo para entender as dimensões da evolução das sociedades.

 

Sou um leitor atento de Giorgio Agamben, filósofo italiano, e de José Bragança de Miranda, filósofo português, que têm desenvolvido análises muito interessantes da actualidade.

 

Giorgio Agamben, por exemplo, refere a ideia de "estado de excepção" para caracterizar os sinais de "tiques" de totalitarismo que vão proliferando e que passam a ser aceites, e a fazer norma, pelos regimes democráticos: o seu exemplo mais conhecido passa pelo mediatizado Guantanamo.

 

E basta começar a estar atento aos detalhes e verificar que os governos dos países democráticos começam a tomar decisões que relegam para segundo plano a intenção de aprofundar as democracias: e, por mais voltas que dermos, o primeiro princípio do movimento democrático passa por periódicos processo eleitorais livres e universais onde o voto de cada um dos cidadãos tem o mesmo valor.

 

Hoje dei com uma ideia que me deixou ainda mais pensativo: alguém disse que, daqui por uns anos, os investigadores considerarão a época em que vivemos como o início da pós-democracia.

 

E lembrei-me de dois exemplos recentes: um colectivo e outro individual.

 

O colectivo trouxe-me à memória a ideia, que muitos advogam, de que  os tratados entre países não devem ser referendados porque os cidadãos, que elegem os presidentes e os governos, não estão preparados para sufragar os documentos mais complexos. E dizem-no com toda a convicção e desplante.

 

O exemplo individual refere-se ao actual primeiro-ministro de Portugal. Num debate parlamentar em que se discutia o "não" irlandês ao tratado europeu de Lisboa, o citado político afirmou o seguinte: "da aprovação do tratado depende, também, a minha carreira política". Fiquei pasmado. Então o serviço público e o exercício de cargos de governação, e seja a que nível for, é também uma questão de carreira? Longe vão os tempos do elevado desprendimento no exercício do serviço público, eu sei, mas assumi-lo assim, com toda a naturalidade, não será também um sinal do início da pós-democracia?

2 comentários

  • Obrigado. A naturalidade com que se encara a ideia de não dar o exemplo começa a ser preocupante. Se pensarmos um bocado, temos sinais do estado de excepção por todo o lado: é claro que em democracia isso é um facto, é a sua génese, mas o que me deixa perplexo é a inconsciência com que se advoga, aceita e legitima, esse conjunto de vestígios. Um abraço com pronúncia africana :)
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