Ideologias, preconceitos e heranças
Os 48 anos da ditadura do século passado consolidaram uma sociedade amedrontada, desconfiada do exercício da cidadania, temerosa do contraditório, alojada na pequena e na grande corrupção, desrespeitadora do Estado e do bem comum e que não considera a organização um valor precioso.
É evidente que para esse estado também contribuíram outros factores históricos, como os de origem religiosa. A jovem democracia, que ainda regista números escolares que envergonham, demorará, se tiver tempo e engenho para isso, gerações a atenuar.
Existem preconceitos que parecem "guardar" a sociedade que descrevi, que supervisionam a ousadia e a poesia de geração em geração e que reagem ao novo com medo da não conservação da herança que nos trouxe até aqui. Controlam os danos de forma subtil e eficaz: classificam de ideológico, dando-lhe uma conotação pejorativa, o que os pode inquietar ao mesmo tempo que se põem a salvo da radical catalogação.
É a forma ideológica e fanática do mau conservadorismo. Existe em modo silencioso que parece esperar a redenção com a chegada "anunciada" do regime protector de todos os males do mundo.