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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

central

25.05.08

 

 




"Mudam os homens não mudam as políticas", 
A engrenagem, Jean-Paul Sartre

 

 

Constato-o cada vez com mais evidência: o bloco central tomou conta dos interesses da vida política portuguesa. Não é uma novidade, dirão alguns. Claro que não é uma novidade, mas, nesta fase de cooperação estratégica, entre a Presidência da República e o Governo, torna-se ainda mais evidente.

 

E ao nível local verifica-se o mesmo: nas conversas que vou tendo com alguns militantes do PS, verifico que, na oportunidade de exercer um qualquer lugar de poder, o fariam num partido ou no outro. E mais: entendem que quando o PSD voltar a governar seguirá as mesmas linhas estratégicas, os mesmos "tiques" e os mesmos propósitos. Aliás, em relação aos propósitos das políticas não concebem alternativa. Não vêem diferenças. Parece que acreditam no fim da história. Uma coisa descomunal.

 

Um outro sinal apareceu a nível nacional: os dirigentes do PS indicam a sua preferência, nas eleições internas do PSD, por Manuela Ferreira Leite, a candidata da simpatia de Cavaco Silva, parece-me. Nunca tinha visto nada assim.

 

É grave. Pode asfixiar a participação política e atrasar ainda mais o desenvolvimento do país. Os portugueses devem exigir uma clarificação do cenário partidário.

 

Não se deve dizer que é igual aquilo que a história nos diz que é diferente.

 

Li, hoje, a seguinte ideia de Vasco Pulido Valente, que conhece muito bem o PSD:

 

"... é preciso dizer que Manuela Ferreira Leite representa o que há de mais genuíno e profundo no partido: a tradição autoritária que vem de Salazar e Marcelo e que Sá Carneiro e depois Cavaco manifestamente receberam".

 

Estará o PS do presente nesta mesma linha? Não há clivagens políticas e ideológicas significativas na história de cada um dos partidos? Ou tudo se resume à oportunidade de encher a agenda mediática com os seguintes objectivos:

 

  • Conquistar o poder;
  • Manter o poder.


Visto de fora, alguém autorizado como Eduardo Lourenço diz o seguinte:

 


"... o jogo político deixou de ter qualquer componente, digamos, de um dinamismo suficiente para que nós nos interessemos por este tipo de luta. A paisagem neste capítulo é muito desertificada, [tal] como se vive em regime único. A superioridade política, neste momento, do PS, é tal que… Pode ser também uma aparência. Mas PSD e PS não são opositores, numa oposição agressiva e dinâmica, como foi em tempos. São duas alternativas à mesma coisa. Isso arrasta uma dramatização menor da cena nacional e quem está lá fora, realmente, não se pode interessar por uma espécie de drama que não existe". 

 

Quem capitulou? Quem desistiu? Não se avizinha nada de bom, parece-me.

4 comentários


  • Sejas bem aparecido meu caro Nicolau. Se bem me lembro, é a primeira vez que inseres um comentário no correntes: obrigado.

    Essa coisa das amostras é aquilo que todos sabemos e o que afirmei não é nada de novo: os militantes do PS conhecem bem os contornos do que escrevi e, no caso das Caldas da Rainha, os que por aqui apareceram têm, sobre isso, um conhecimento muito mais profundo do que eu.

    Tenho conversado com muitas pessoas do PS e até participei, recentemente, numa reunião da estrutura local com deputados para discutir a situação actual na educação: e o que afirmei é aquilo que todos constatamos: a sensação que muitas pessoas estão no PS como poderiam estar no PSD: sei que isso é antigo, claro, mas não me parece positivo e, actualmente, manifesta-se de um modo mais evidente.

    Maquiavel, nas suas tarefas de assessoria ao Príncipe, desenvolveu bem a tese das principais funções da política: conquistar e manter o poder. Foi um exercício à posteriori mas, com o decorrer dos séculos, instalou-se como um apriorismo absoluto. Talvez antes se tenha falado disso, talvez. Mas Maquiavel não deve ser, também, o fim da história.

    Também não me revejo na ideia do Cavaco ser o homem do leme: mas no que à educação se refere, sinto uma verdadeira cooperação estratégica.

    "O que me angustia na situação actual é á tendência para o suicidio político das maiorias, que acontece sempre que o regime se refugia nos ghettos do exercício do poder desligados da realidade e dos cidadão" - não podia estar mais de acordo. Olha: neste post, tinha um parágrafo exactamente sobre isso, mas acabei por retirar para que não ficasse muito longo.

    Obrigado por passares por aqui.


    Aquele abraço e força aí
  • Sem imagem de perfil

    Nicolau Borges

    29.05.08

    CANÇÃO DE OUTONO

    Por um caminho de ouro vão os melros... Aonde?
    Por um caminho de ouro vão as rosas... Aonde?
    Por um caminho de ouro vou... Aonde,
    Outono? Aonde, pássaros e flores?

    Juan Ramón Jiménez
    (1881-1958)
  • Mas que coisa tão bela. Obrigado. Abraço.
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