sua excelência (4)
Era como se lhe tivessem explicado o mito de Sísifo de pernas para o ar: a pedra redonda desce num infinito movimento uniformemente acelerado, e, nunca mais sobe.
- Como o universo é curvo, dizia, o círculo é a forma geométrica da excelência.
O lema de Sua Excelência deixava perplexos os geómetras da sua instituição. Considerava-se um caso exemplar de eficiência: mantinha todos ocupados o tempo todo e nunca admitia o fim de um procedimento.
Encontrava sempre pequenos pormenores a serem corrigidos: nem que fosse pela cor da tinta da caneta. Tinha o decreto respectivo na ponta da língua e emoldurado na parede, atrás da sua cadeira.
A instituição que Sua Excelência chefiava, movimentava-se aparentemente e obedecia ao princípio zero da reinvenção. O veredicto de Sua Excelência era aguardado no mais temeroso e pálido silêncio e nada circulava sem passar por Sua Excelência.
Sua Excelência confundia-se com o conceito de fim: tinham-lhe falado no fim da história. Isso intrigava-o e desesperava-o: qual seria o seu lugar? Passava horas a ler as crónicas de história contemporânea, no semanário regional editado na sua pequena cidade, à procura de luz. Nunca a encontraria, desconfiava ele ao adormecer.