Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

dos tácticos

29.06.11, Paulo Prudêncio

 

 

(A intemporalidade das reedições)
 

Embora aprecie o humor, as anedotas desconcertam-me. Não sou dado a isso e nem sei explicar a razão. Devo confessar que, quando me contavam anedotas, até sorria: não que percebesse a história, é que desligo quase de imediato e de modo compulsivo, mas porque sim; cortesia. Os meus amigos não me levam a mal e já deixaram de me contar a célebre "narração sucinta de um facto jocoso". Não estão para sorrisos amarelos e fazem bem.

Mas tenho sempre duas ou três anedotas para os raros apertos sociais. O portefólio, que raio de palavrão, vai mudando com a idade.

E vou escrever uma.

 

É sobre uma regata, com barcos de 12 tripulantes, entre Portugal e o Japão. A regata disputou-se em duas mãos: 20 Kms de cada vez.

 

Na primeira mão, a embarcação portuguesa chegou com 2 horas de atraso. Reuniu-se o comité de dirigentes da delegação lusa, ordenou a constituição de uma comissão para o estudo do insucesso e a conclusão foi esta: o problema estava na constituição das equipas: a japonesa tinha 1 timoneiro e 11 remadores (1-11) e a portuguesa organizava-se com 1 timoneiro, 2 vice-timoneiros, 3 sub-timoneiros, 5 timoneiros adjuntos e 1 remador (1-2-3-5-1). Perante os factos, o comité de dirigentes, e após acesa e demorada discussão, tomou a decisão: a organização da equipa portuguesa passou a ter a seguinte composição: 1 timoneiro, 1 vice-timoneiro, 4 sub-timoneiros, 5 timoneiros adjuntos e 1 remador (1-1-4-5-1).

Resultado da segunda mão: a equipa portuguesa chegou com 4 horas de atraso. Estupefactos, os membros do comité dirigente voltam a repetir todo o processo investigativo, acrescentando-lhe mais uma comissão. Após meses de análise aturada, conheceu-se a causa do desastre desportivo: a culpa era do remador.

 

E vem tudo isto a propósito do novo modelo de gestão desenhado para as escolas portuguesas.

 

Actualmente as escolas podem escolher entre dois modelos de órgão de gestão: ou com 1 presidente, 2 vice-presidentes e 2 assessores (1-2-2) ou com 1 director, 2 adjuntos e 2 assessores (1-2-2). A esmagadora maioria das escolas escolheu o primeiro.

O governo reformista do presente, e pela pena da diabólica equipa que governa o ministério da Educação, vem, depois de muito estudo e após a consulta a organismos com prestígio internacional na teoria "a táctica do treinador de bancada", decretar um inédito modelo, escolhendo também uma nomenclatura mais agressiva (e mais bem pagos por causa dos votozinhos e da-crise-financeira-que-se-lixe-que-alguém-depois-paga): 1 director, 1 sub-director, 3 adjuntos e 3 assessores (1-1-3-3). Eureka. Agora é que vai ser.

Esperemos pelos culpados. Aliás, e neste caso, esses, os culpados, claro, já os conhecemos há uns tempos. São mais de 100 mil chatos.

(Reedição. 1ª edição em 8 de Abril de 2008)

7 comentários

Comentar post