imagens nuas
Em 7 de Maio de 2008, escrevi o seguinte:
As pessoas registam e continuam estranhamente sossegadas. Nada de bom se adivinha. Os administradores hospitalares usam recursos públicos em telefones pessoais, cartões de crédito, automóveis e almoçaradas, os corruptos ficam absolvidos em tribunal porque o corrompido era vereador sem pelouro, os casos de financiamento partidário duvidoso são banais, os bancos e os negócios do sector imobiliário "aprisionaram" a sociedade até à medula, os fundos estruturais foram alvo de um fartar vilanagem, a comissão de ética da Assembleia da República é composta por pessoas - algumas, claro - cujo historial conhecido dá uma volta ao estômago, o desplante para ocupar lugares de decisão está num saldo inaudito e preocupante, e podíamos ficar aqui a debitar casos que explicam a parte maior da prevista e desgraçada condição financeira do país.
Lembrei-me do professor José Gil e do seu "imagem-nua e pequenas percepções". O prefácio é a propósito dos readymade e da análise detalhada à realização de uma escultura. Mas podia ser também da publicidade. As imagens estão por aí, vemo-las sem as vermos, mas ficam registadas, condicionam as nossas escolhas e vão-se perigosamente acumulando. Um dia, entrarão pelos estômagos adentro e já poderá ser tarde.