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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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as minhas calças brancas parte II

29.10.16


 

 
 
 
Haverá ser humano que nunca tenha desejado ardentemente uma coisa material? No meu caso foi um par de calças.

Teria quase dezoito anos quando passei pela montra de uma loja em tudo inacessível e de me ter deslumbrado com um par de calças de ganga de cor branca.

Não digo a marca. Seria publicidade e não me pagam para isso e não só as tenho como ainda as uso.

Enquanto massacrava os meus progenitores, conquistava, diária e pacientemente, as graças das “minhas calças brancas”. A inacessibilidade não passou o primeiro natal.

A estreia coincidiu com a minha maioridade moral: a etária. Não, não se inquiete: sei que estas coisas da moral não têm barreiras definidas, mas ajuda-me a contar a história.

Saí de casa, depois de inúmeros olhares deslumbrados para um espelho de corpo inteiro, e dou com um charco imenso. Se a intenção era chegar a um local que se situava no lado oposto, o aparecimento de um obstáculo lamacento surgiu-me como uma dificuldade inultrapassável.

Parece-me que se compreende. As amadas calças salpicadas de lama no dia um? Nem pensar. Nem um pingo sequer. Havia que contornar o charco com a certeza da sua finitude; decerto que o outro lado se alcançaria.

Têm sido anos de caminhada e o charco parece não ter fim. Não raras vezes, recebo convites de pessoas que se atravessam charco adentro motivados pela impaciência para caminhadas longas, limpas e seguras. Chafurdam na lama. Também nunca as tinha visto de calças brancas, é certo. Acenam-me do outro lado ou mesmo em pleno charco. Digo que não e já não mudo. E o que é que isto tem a ver com a morte, direis vós? O outro lado, o inferno de que vos falei, direi eu. E as categorias não eram duas?
 

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