Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

sua excelência, o arquivista

11.06.10
Sua Excelência mandava arquivar tudo em triplicado. A ideia era antiga e estava decretada: teria sido fixada, segundo uma douta investigação de um correligionário seu, após um parecer dos serviços de bombeiros e de protecção civil. Mas os tempos tinham mudado: já não era só a arrumação da competente numeração das pastas de arquivo - a 300031 para a cópia 1, a 300032 para a cópia 2 e a 300033 para a cópia 3 - era, agora, a reprodução dos meios de comunicação. (...)

sua excelência (2) (reedição)

14.06.09
  Sua Excelência nunca recorria ao mecanismo do pensamento: considerava-o bastardo. Também não preparava as reuniões (só promovia, e mesmo assim a muito custo, as ordinárias): tinha como religião ser errático e fingir-se esquecido em datas. Como não pensava, associava o seu sagrado à ausência de erro. Mas rendia graças ao culto prestado à sua divindade; esperava pelas ideias dos outros e tentava derretê-las (terceira regra dos seus mandamentos)com uma (...)

sua excelência e os impressos

27.09.08
  Sua Excelência acordou frenético: tinha mais três anos de mandato e já tinha esgotado o programa previamente planificado; por outro lado, tinham-lhe cometido a responsabilidade de dar vida ao ponto três do plano económico - e transversal - do governo a que pertencia: viabilizar a nova e hodierna empresa produtora de papel que, por sua vez, fornecia a desorientada imprensa nacional - (...)

sua excelência, o hermeneuta (3)

17.03.08
Vou abrir uma excepção. Já vai perceber, meu caro leitor. É que um dos adjuntos de Sua Excelência telefonou-me por causa do “post” “Sua Excelência, o hermeneuta (2)”. Argumentou, com toda a delicadeza, diga-se, que eu não tinha percebido bem a questão: Sua Excelênciaestava envolvido num sistema demasiado competitivo e a decisão que tomou tinha uma justificação que favorecia (...)

sua excelência (3)

05.03.08
Sua Excelência tinha um escrupuloso respeito pelas hierarquias: era déspota para os que lhe estavam abaixo e servil e excessivamente delicado para os que lhe estavam acima; ficava sempre temeroso quando se dirigia a reuniões externas: movimentava-se com a determinação mental de pôr em prática a doutrina que lhe ordenassem. Certa vez, deu-se a uma conferência com um orador muito acima da sua escala. A divisa estava estampada à entrada: duas cabeças fazem - fazem em letra (...)

sua excelência (4)

04.03.08
Sua Excelência adoptava o padrão da complexidade. Era como se lhe tivessem explicado o mito de Sísifo de pernas para o ar: a pedra redonda desce num infinito movimento uniformemente acelerado, e, nunca mais sobe. - Como o universo é curvo, dizia, o círculo é a forma geométrica da excelência. O lema de Sua Excelência deixava perplexos os geómetras da sua instituição. Considerava-se um caso exemplar de eficiência: mantinha todos ocupados o tempo todo e nunca admitia o (...)