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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

o diabo veste-se na sombra

14.11.10

 

 

 


 

 

 

Por que é que me oponho de modo tão convicto ao novo modelo de gestão escolar? É simples: defendo o poder democrático da escola com os mesmos argumentos da preferência pela democracia enquanto regime político. Sei das suas imperfeições e reconheço que sufraga governos (ia a escrever lideranças) incompetentes. Pior do que isso consegue-se quando não se vive em democracia.

 

O sistema iniciado na Grécia Antiga tem uma comprovação científica, por registo das ciências políticas, que lhe confere um lugar de primazia. Foi na democracia que se registaram os mais significativos progressos das sociedades.

 

De modo resumido poderemos caracterizá-la do seguinte modo:

  • pela renovação e legitimidade dos mandatos de poder - com limitação do número consecutivo nos exemplos mais avançados e prósperos - e pelo sufrágio directo e universal;
  • pela consequente divisão de responsabilidades, com aumento significativo da participação e da mobilização cívica e profissional;
  • pela liberdade de expressão e de circulação de ideias, que proporciona níveis elevados de inovação e de espírito empreendedor;
  • pelos níveis de parcimónia, de transparência e de escrutínio na gestão dos bens comuns;
  • pela repartição da riqueza, pelos progressos no bem-estar das pessoas e nos indicadores de esperança de vida;
  • pelos inauditos níveis de desempenho profissional das pessoas e das organizações;
  • pela afirmação de lideranças fortes, segundo o seguinte princípio de simultaneidade: "os líderes sentem-se capazes do seu exercício e os liderados reconhecem essa autoridade".

Sabe-se que as organizações que adoptaram regimes democráticos obtiveram melhores resultados; também no mundo empresarial.

 

Conhece-se que o contrário de democracia regista resultados quase opostos aos que observámos.

 

A questão que se coloca à gestão escolar em Portugal começa a ser sentida: afinal mudou-se para a regressão?

 

Apesar de haver lideranças que se afirmam em qualquer modelo, o contrário é também verdadeiro. Mas no sistema que se quis impor, não só se reduziram os níveis de competência, de mobilização, de divisão de responsabilidades, de autonomia, de inovação, de transparência e de profissionalismo, como se proporcionou o desgraçado poder arbitrário de tiranetezitos. E por incrível que possa parecer, só sobrevive quem fez de conta na selecção do director escolar e das cargos intermédios, não cumprindo o espírito que foi proposto e mantendo disfarçados os regimes de sufrágio directo e universal; ou seja, em Portugal quem escolheu viver em democracia teve de o fazer de modo dissimulado e envergonhado.

 

Diábolos que me tenho de beliscar.

 

 

(Rescrito. 1ª edição em 29 de Dezembro de 2009)

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